RedLabora anuncia duas propostas de pauta sobre o mundo do trabalho na América Latina que receberão bolsas de U$ 2 mil 

A RedLabora, rede internacional de jornalistas do trabalho, que busca qualificar e incentivar a cobertura jornalística sobre esse tema na América Latina, realizou um concurso de duas bolsas de U$ 2.000,00 cada, para a produção de reportagens especiais sobre o mundo do trabalho na região, abordando algum dos temas prioritários definidos pela rede.

Ao todo, foram recebidas 143 propostas de pauta para as bolsas, provenientes de 14 países da região (Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Cuba, Equador, Guatemala, Honduras, México, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela). Dentre elas, 93 foram apresentadas por jornalistas brasileiros e 49 de outros países da América Latina.

As propostas escolhidas foram: “Natureza protegida, direitos violados: a difícil situação dos guarda-parques peruanos”, de Paul Eduard Tuesta Vargas, em parceria com Ricardo Mendoza Regalado, e “Cortadores digitais”, de Pedro Nakamura, em parceria com Rodolfo Almeida e Sofia Schurig.

O comitê de seleção, formado por representantes da Repórter Brasil e do comitê consultivo da RedLabora, levou em conta o alinhamento da pauta com a proposta da bolsa, a qualidade da pré-apuração, a originalidade e relevância jornalística, afinidade dos proponentes com a pauta, entre outros fatores.

Todo o processo de apuração e elaboração das reportagens será acompanhado pela RedLabora. As reportagens especiais deverão ser publicadas nos respectivos veículos jornalísticos até o dia 09/12.

Guarda-parques peruanos

O Peru é um dos países com maior biodiversidade do mundo, e os guarda-parques desempenham um papel fundamental na preservação das Áreas Naturais Protegidas (ANP). No entanto, esses defensores do meio ambiente enfrentam condições de trabalho precárias. A falta de um regime de trabalho adequado os deixa vulneráveis a ameaças físicas (tráfico de drogas, mineração ilegal e extração ilegal de madeira), baixos salários e falta de benefícios, como estabilidade no emprego e seguro de vida. O recente Acordo de Escazú obriga o Estado a garantir um ambiente seguro para os defensores ambientais, mas essa promessa não é cumprida no caso dos guardas florestais.

A reportagem em vídeo explorará as condições de trabalho dos guardas florestais peruanos, que, apesar de arriscarem suas vidas para proteger as ANP, não têm um regime trabalhista adequado. Atualmente, a maioria desses trabalhadores está sob um regime que lhes nega estabilidade no emprego e benefícios sociais essenciais, em meio a crescentes ameaças ambientais, como os recentes incêndios florestais.

Paul Eduard Tuesta Vargas recebeu em 2024, como parte da equipe do Convoca.pe, o prêmio na categoria “Jornalismo Ambiental” da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP). Em 2021, ganhou o primeiro prêmio no concurso de jornalismo “Cuidar el agua es cuidarte”, organizado pela Autoridade Nacional de Águas do Peru; e em 2019, fez parte da equipe que recebeu o Grande Prêmio Nacional de Jornalismo do IPYS pelo projeto “División de Sobornos” do Convoca.pe. Ele também trabalhou em investigações transfronteiriças, como a série “Dorada Opacidad: Mecanismos sobre el tráfico del oro latinoamericano”, juntamente com jornalistas da Venezuela, Colômbia, Equador, Brasil e Peru. Ricardo Mendoza Regalado é jornalista, membro da Associação Nacional de Jornalistas do Peru (ANP), especializado em jornalismo investigativo, com foco em questões ambientais, direitos humanos, povos indígenas e indústrias extrativas.

Cortadores digitais

Nos últimos anos, com o crescimento das plataformas de vídeos curtos como TikTok, YouTube Shorts e Instagram Reels, a demanda por conteúdos fragmentados de vídeos longos explodiu. Muitas agências e influenciadores perceberam a oportunidade de terceirizar a criação desses vídeos curtos e ofereceram parcerias para criadores de conteúdo independentes, prometendo renda extra. Essa promessa tem atraído especialmente pessoas de baixa renda, desempregados ou jovens que buscam um sustento ou até mesmo complementar suas rendas, mas o verdadeiro retorno econômico desse trabalho ainda é pouco discutido.

Os jornalistas que propuseram a pauta pretendem investigar esse crescente mercado de cortes de vídeos curtos nas redes sociais. O objetivo é explorar o impacto econômico e social para os “cortadores digitais” que se engajam nesse tipo de trabalho em busca de uma renda via internet, quais as estratégias e promessas envolvidas no recrutamento dessas pessoas e na produção desse tipo de conteúdo e qual o impacto desse mercado para o tipo de conteúdo que circula nas redes sociais.

O resultado será publicado no site Núcleo Jornalismo, numa série de reportagens com visualização de dados e vídeos.

Pedro Nakamura é um repórter que investiga as intersecções entre ciência, tecnologia, saúde, marketing e política. Já colaborou com veículos independentes como Núcleo, O Joio e o Trigo e Repórter Brasil, além de jornais tradicionais como Estadão e Zero Hora. Venceu os prêmios Livre.Jor (2021) e Amrigs (2023) de jornalismo. Rodolfo Almeida trabalha com visualização de dados, mapas, infográficos e design de informação. Foi responsável por infográficos no Nexo Jornal, produziu matérias em vídeo no Estadão e colaborou com dezenas de veículos e instituições, como The Intercept, Revista Piauí, Climate and Land Use Alliance, Greenpeace, WWF, entre outros. Sofia Schurig é repórter de tecnologia do Núcleo Jornalismo e pesquisadora de Open source intelligence, com experiência na cobertura de direitos humanos, segurança infantil e extremismo on-line.

RedLabora

A RedLabora é uma rede internacional de jornalistas do trabalho, criada pela Repórter Brasil, com o apoio do Solidarity Center, da Confederação Sindical das Américas (CSA) e de um consórcio de sindicatos globais, com o objetivo de promover a troca de informações e o trabalho conjunto entre seus integrantes e apoiar a produção de materiais jornalísticos de qualidade sobre questões laborais.

A rede destaca como temas que merecem especial atenção no mundo do trabalho na atualidade: 1) Direitos humanos, em especial os direitos trabalhistas; 2) Crise ambiental, mudanças climáticas e Amazônia; 3) Multinacionais e cadeias produtivas; 4) Migrações; e 5) Tecnologias contemporâneas e direitos digitais.